
Porto, agro, ônibus e mais: bloqueio de GPS por Trump pode travar Santa Catarina?

A menos de uma semana da implementação do tarifaço de Donald Trump, de 50% sobre exportações aos Estados Unidos, o Brasil pode sofrer novas sanções, como o bloqueio do sinal de GPS e ampliação da taxa para 100%.
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Os impactos dessa medida poderiam afetar diversos setores da economia, desde aplicativos de delivery e transporte, até centros de pesquisa e tecnologia, causando prejuízos milionários.
Santa Catarina possui iniciativas e serviços específicos que dependem da ferramenta de posicionamento global. Um eventual bloqueio do sinal de GPS poderia impactar em pilares comerciais do estado e também na segurança pública.
O sistema “GPS Rural SC”, por exemplo, é um projeto de georreferenciamento e cadastro de propriedades rurais, que busca facilitar o acesso e atendimento de serviços públicos — como emergências e assistência técnica — às zonas rurais.
Além disso, Santa Catarina possui quase quatro mil detentos sob monitoramento eletrônico, que registra a localização exata do tutelado e informa às autoridades em eventual descumprimento de ordens judiciais.
Como funciona o sistema GPS?
O GPS é capaz de fornecer informações de altitude, latitude e longitude, e até horário com muita precisão, funcionando ininterruptamente e disponível gratuitamente através internet. É através de que aplicativos de geolocalização e mobilidade funcionam, por exemplo, e é essencial para áreas como cartografia e monitoramento ambiental.
Pesquisadores da área se referem à funcionalidade como GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite), que é o termo geral usado para toda e qualquer navegação via satélite. O GPS, por sua vez, é um sistema semelhante, mas desenvolvido pelos Estados Unidos.
“O sistema GNSS trabalha, basicamente, com alguns tipos de órbita diferentes. Nós precisamos de, pelo menos, quatro satélites para poder fazer a geolocalização. Esses satélites precisam estar em pontos exatos para se conseguir, corretamente, a geolocalização”, explica o doutor em engenharia elétrica e pesquisador do SpaceLab UFSC, Xisto Lucas Travassos.
Os pesquisadores do SpaceLab UFSC — o laboratório de pesquisas e desenvolvimento em sistemas espaciais da Universidade Federal de Santa Catarina — tem como foco, os satélites de baixa órbita, que ficam a uma distância de 500 a 2.000 quilômetros da Terra. Ao todo, são três tipos:
Satélites de baixa órbita;
Satélites de média órbita;
Satélites de geoestacionário
“A diferença entre esses satélites é o posicionamento, como eles se movem em relação à Terra. O satélite geoestacionário, por exemplo, acompanha a rotação da Terra, então está sempre sobre o mesmo ponto. Já o satélite de baixa órbita, ele se movimenta mais rápido do que a rotação da Terra. Nesse caso, pode ter um ponto do Globo em que se passa duas vezes com o satélite de baixa órbita durante o dia”, detalha o pesquisador.
Quais os impactos do bloqueio do sinal de GPS em Santa Catarina?
Diversos setores da economia catarinense podem ser, diretamente, afetados pela ausência desse serviço, como navegação, transporte e logística, e telecomunicações. Para Travassos, é muito difícil que o bloqueio do sinal de GPS seja efetivado no país, mas caso ocorra, é possível que alguns serviços tenham “funcionalidade reduzida, mas não totalmente interrompida”.
“Os sistemas de navegação global, por exemplo, são de abrangência internacional. Além disso, existem redes alternativas, como as da União Europeia (Galileo), China (BeiDou) e Rússia (GLONASS), que poderiam ser utilizadas. Pescadores poderiam utilizar os sistemas GNSS alternativos (Galileo, BeiDou, GLONASS) para navegação, por exemplo”, explica o pesquisador do SpaceLab UFSC.
Para o cientista, aplicativos de transporte e delivery — como iFood, 99 e Uber — e o Floripa no Ponto, utilizado na capital catarinense para informar sobre o transporte coletivo, sofreriam menos impacto com o possível bloqueio do sinal de GPS.
“A maioria desses aplicativos depende de plataformas de big techs norte-americanas (Google Maps, Apple Maps). Economicamente, seria inviável para essas empresas bloquear o serviço apenas no Brasil, pois isso afetaria a operação global”, entende.
Travassos pontua que, diferentemente dos aplicativos de uso recorrente da população, a ancoragem nos portos de Itajaí e Imbituba, fundamentais para o desenvolvimento econômico do estado, precisariam de uma ferramenta alternativa em um eventual bloqueio do sinal de GPS.
“A navegação de embarcações em portos depende fortemente do GNSS para posicionamento preciso. Contudo, sistemas auxiliares como radares terrestres e balizamento eletrônico poderiam mitigar o impacto. Além é claro, das outras redes de satélites disponíveis”, destaca.
Segurança pública pode ser prejudicada
Segundo dados da Sejuri (Secretaria de Estado de Justiça e Reintegração Social), Santa Catarina monitora 3.800 pessoas através de tornozeleiras eletrônicas. Caso o bloqueio do sinal de GPS seja aplicado, a pasta precisaria de alternativas imediatas para manter a funcionalidade do sistema.
“Se o sinal de GPS for bloqueado, as tornozeleiras poderiam perder eficácia. Uma solução seria migrar para sistemas de monitoramento via rede celular (4G/5G) ou radiofrequência (RF), que não dependem exclusivamente do GNSS”, sugere o pesquisador Xisto Lucas Travassos.
O mesmo poderia ser aplicado à ferramenta utilizada pelo estado para monitoramento de esgoto irregular. “A funcionalidade seria comprometida, mas não totalmente perdida. Dependendo da tecnologia usada, poderiam ser adotadas soluções como sensores offline ou integração com outras redes de satélites (ex.: Iridium para áreas remotas)”, pontua.
É possível desligar o sinal de GPS no Brasil?
Para o cientista, do ponto de vista prático, é muito difícil que o presidente dos Estados Unidos consiga promover o bloqueio do sinal de GPS ao Brasil. Nos anos 2000, o então presidente norte-americano, Bill Clinton, determinou que a SA (disponibilidade seletiva, em tradução literal), fosse proibida, ampliando a responsividade da ferramenta em todo o mundo.
“Desligar o GPS em apenas um ponto do Globo, que seria o Brasil, demandaria um esforço extremamente grande, principalmente com as características geográficas do Brasil. Sem contar a questão dos outros satélites. Existem sistemas GNSS na União Europeia, Rússia, da China e eles continuariam funcionando”, explica Travassos.
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